Calaste-me
Dia 25 de Abril de 2012, são 10:46 da manhã, não é muito meu
hábito despejar palavras medonhas neste horário, raramente tenho capacidade
para isso porque nada se desenvolve na minha mente. Já há algum tempo que me oiço
silenciosamente a gritar a todo o momento. Sinto que as minhas forças quebram, o
outro lado da minha realidade saqueia-me a mente, tudo se desmorona, e o
silêncio me toma… Tu tomaste conta de mim, prendeste-me ao medo para meu
desespero e parece que me afogaste a voz num mar de lama para meu abafo! Sinto
a semelhança de uma nota de música sem timbre de um instrumento sem capacidade
para mais.
Sim Tu silêncio, sentiste? Tomaste a forma humana, criaste
inteligência sobre mim e ofereceste-me dependência, calaste-me a boca,
cozeste-a, praticaste medo em mim e arremessaste-me contra o gelo. De outra forma,
numa noite tomaste a forma humana na minha varanda. Caminhaste lentamente,
quase arrastando-se até onde me encontro encolhido num momento de inercia, respiraste
ao meu ouvido na minha cabeça baixa,
fizeste-me sentir o húmido dos teus lábios, o calor da tua respiração enquanto
me perguntavas se eu sabia o que era o medo. Sinto a tua envolvência à minha
volta, um ar fresco que me invade as costas, a minha roupa a puxar-me para me
levantar quando o meu chão desaparece, parece que me ajudas, mas não, mergulhas-me
num sonho de um conjunto de pesadelos gelados ao som dos meus gritos que se
tornam silenciosos. Isso mesmo seu miserável silêncio, consegues ser mais forte
que eu e fazer-me sentir pequeno, consegues fazer sentir frio quando eu deveria
sentir quente, baixas o meu tom de voz como quem me baixa o volume. Consegues
fazer da minha realidade uma arca frigorífica onde me arremessas contra uma
parede gelada e me castigas perante o meu corpo amedrontado. Sinto o gelo a perfurar-me
a pele e gelar-me o sangue enquanto me empurras para dentro da maliciosa
parede. Os meus olhos arregalados com o mesmo conjunto de pesadelos, que
sinceramente mais parece um álbum de fotografias de um passado com
oportunidades perdidas que nem se consegue reclamar! Detesto-te como individuo
e detesto o teu preenchimento de carne mássica, detesto o teu sabor afrodisíaco
de fantasia irreal que promete e nunca acontece! Odeio-te por me arrependeres com
tais palavras que mastigas, “Uma vida perdida por ti, mas foste tu que a perdeste, uma vida que passa
ao lado mas foste tu que a deixaste fugir”. Tais palavras que me envenenam a alma, que me fazem sentir
ainda mais sufocado do que já sinto com a tua mão na minha garganta! Sinto que
me tiras a vida à medida que me sugas a minha inspiração de brincar com as
palavras. Revelas-te e me mostras um conjunto de promessas e sonhos que não
passaram de fracasso de que tudo o que eu sempre quis! Sinto o afastar da tua
mão da minha garganta, sinto gelo da tua boca e me dizeres ao ouvido que me
sentes pena ao mesmo tempo que te afastas e no segundo seguinte, os meus
joelhos caem que nem pedra. Tento gritar para que me salves, mas tu só te
afastas no fundo do túnel, cozeste-me a boca, a língua para que não fale,
gelaste-me a alma e o
pensamento.
Ainda não consigo entender como fui parar dentro de uma
banheira com água gelada e cheia de gelo, nenhuma palavra saiu numa tentativa
de evolução para o arrependimento por autodestruição psicológica.
Escrito por: Ricardo Lourenço
São: 00:50, dia 15 de
Maio de 2012