Bate Palmas verbais
Hoje é dia 23 de Março de 2015, miseravelmente voltei às palavras,
de forma irracional deixei-me envolver novamente por elas e violentamente alucinado
confrontei uma folha em branco… Algo me bate palmas no cérebro, algo ri na
minha cara enche a minha cabeça num claro perceber de estado de alma que não se vê
e incapacita os meus movimentos!
Um bater de palmas seco e irónico que marca repetidamente a
merda do meu regresso ao poço do sem nexo, da incompreensão das coisas, aumento
da loucura nefasta, nojenta e sucumbida à inercia. Letras, palavras e imagens
que cortam o meu corpo e o fazem gritar constantemente, arrepia a forma como
suga a pouca vida que resta nele nestes momentos. Que me
esmifram o pensamento com emoções e sensações de concentração excessiva quase
louca! Só me lembro que me esqueço de tudo o que há à minha volta, um
desassossego total, um pensamento frenético, um transporte involuntário para o
nada, para o outro lado da realidade, uma reles e breve sensação de um eco
vazio de silêncio enquanto solta uma voz trémula e arrastada, numa gargalhada
descontrolada de olhos pretos que me penetram no cérebro e quase me arrastam
para o abismo verbal… Agora já não consigo mais e são 1:18 da madrugada, não me
sai mais nada para a maldita folha, parece que fala comigo… Escreve sobre mim
ou não consegues? Risca-me!
São 24 de Março, o psicadélico
bater de palmas da maldita folha transporta-me para o nada e faz-me sentir
vazio como uma cidade vazia, eminentemente absorvido pela subnutrição, parado na cidade preta
e branca como sentado numa mesa, nada anda, uma espécie de paragem de tempo que
me arranca de mim, que me muda o estado de espírito abandonando-me ao bate
palmas verbal. Ninguém me parou, escrevo desenfreadamente que só me apeteceu
gritar… Eu tentei, juro que tentei, juro que quis, fiz tudo para ser mais
fácil, que me motivei ao mesmo tempo que fiquei com raiva e me torturei, os meus
olhos ficaram tão vermelhos de tanto que chorei, o meu cérebro estremeceu de tão
exprimido mas aceitei e ganhei ao pensamento vazio da folha em branco.
Escrito por: Ricardo Lourenço Lisboa, 15 de Abril de 2015