Sinto-me preso, sinto-me pesado... São 23:44 da noite, e apenas sinto aço e chumbo naquele que há anos passaram a designar como meu corpo. Um corpo que está sentado num lençol branco, um corpo imundo, farto de tudo e de todos, e em todos quer dizer momentos, um simples pano branco que nem sempre chega para limpar lágrimas de lembranças. Elas não me deixam viver, comem, consomem e me descarnam. A carne dos músculos por vezes prende-se de tanta incapacidade de movimentação, a carne por vezes enrijece os meus braços, endurece-os, deixando-os estendidos como pedra, absorvidos pela terra, ironicamente tudo é como era...
Passou um minuto, são 23:45, uma prisão de lembranças me mantém preso à mesma cama, por cima do mesmo lençol...Na mesma posição de inércia corporal! Todos estes momentos são demasiadamente compridos e os minutos parecem como correntes semelhantes a séculos! 23:46, um minuto passado... Horas que fazem os meus braços parecerem repetidamente pedra, horas que me aprisionam ao pensamento. O tipo de pensamento que faz escrever o "Odeio-te", que me faz ter "um grito de dentro". São horas que me tiram as forças quando me atacam com as lembranças, são como uma prisão que fazem crescer grades à minha volta, à volta do meu cérebro e à volta da mesma cama, onde está o mesmo lençol que já não é branco. Agora também vermelho.-Sangue? Presentemente, uma pergunta sem resposta, presentemente uma memória do passado aperta-me o pulso como uma algema e prende-me à maldita grade! Sinto o meu cérebro fervilhar de tanto gritar! As correntes não permitem as minhas mãos na cabeça quando ela estala; por mais que queira acordar, não dá, não consigo sentir o som da liberdade da minha alma! Só sinto a palidez do meu corpo, sinto o fugir da minha calma, sinto um grito no meu pulso ensanguentado que me desarma! Tanto em apenas 3 minutos metaforicamente preso. 23:49...
Ainda tento arranjar uma razão lógica para me sentir tão preso, sinto o corpo a contorcer -se na mais selvagem das imagens imaginadas, por mais que lute realmente não entendo. Sinto a minha pele a despegar numa temperatura de 100ºC como se tivesse colada, sinto-me impotente, só porque um poster memorial se tentou intrometer na minha tentativa de ser alguém, na tentativa de fugir do escuro que me engole e das correntes que me prendem a mente provocando um fundo golpe! Em apenas mais um minuto, sinto uma explosão de ideias completamente fantasmagóricas e num ápice os gritos chamam silenciosamente por socorro. Ninguém ouve e permaneço deitado em 120 segundos de abismo, as lágrimas misturam-se com o suor e juntas correm em pleno corpo que grita quando se contorce para a frente… A fraca tentativa de libertação apenas permite sonhar com o que não tenho e também o que gostaria de ser. Acordei! 7 Minutos de pesadelo secaram-me a garganta, apertaram-me o pescoço, cortaram-me a língua, impediram-me de te falar e a cobardia prendeu-me. São 23:52, tenho que ir para casa. Tu foste, mais uma oportunidade deitada fora, a cama afinal era um banco de rua, nunca pensei que fosse veridico... Amanha tenho que ir trabalhar.( continua)
Escrito por: Ricardo Jorge santos Lourenço
Lisboa, 14 de Junho de 2009
1 comentário:
Tá fortíssimo, contagiante, arrepiante, brutalmente original e bem escrito. Gostei bastante! Parabéns
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